A antecipação de recebíveis pode influenciar a maneira como o capital de giro de uma organização funciona. Descubra de que maneira isso acontece a seguir!
Se você possui uma empresa, já percebeu que seu financeiro precisa ser muito bem estruturado para que não ocorram deslizes e haja perda de dinheiro.
É ele que, em última instância, define o sucesso ou o fracasso de uma organização no longo prazo – e, ironicamente, é um dos aspectos que empreendedores menos têm conhecimento, o que pode gerar certo desconforto no dia-a-dia.
Uma das estratégias está relacionada à antecipação dos valores a serem recebidos pela empresa (os chamados “recebíveis”) e sua consequente utilização no capital de giro.
Vamos entender de que maneira isso funciona?
Alguns conceitos importantes
Para facilitar o entendimento, entretanto, é necessário entender alguns termos importantes na área de contabilidade:
Antecipação de recebíveis
Também conhecido como “contas a receber”, os recebíveis podem ser tratados como o montante de dinheiro a ser recebido pela empresa através do processo de venda de seus produtos ou serviços.
Dependendo do tamanho da empresa e do porte de operação realizada, esses valores acabam sendo parcelados em duas ou mais vezes.
Se para a pessoa que realizou a compra isso pode parecer uma grande vantagem – afinal, ela não precisa comprometer uma grande quantia de dinheiro de uma vez só -, para a empresa que está recebendo esses valores a ideia pode soar um tanto quanto controversa, pois o retorno financeiro do lucro não acontece de maneira imediata.
Um exemplo prático: sua organização realizou uma venda de máquinas no valor de 100 mil reais, sendo que o preço de custo avaliado foi no valor de 40 mil reais.
Entretanto, o cliente decidiu parcelar a venda em 10 vezes sem juros, pagando 10 mil reais pelos próximos meses.
Teoricamente, seria necessário esperar 4 meses apenas para cobrir os custos de produção das máquinas.
Para evitar essa demora, foi criado o mecanismo da antecipação, que consiste em receber o valor integral dos recebíveis a uma taxa de juros atrativa, sob intermediação de uma instituição financeira.
É importante destacar, entretanto, que as taxas cobradas para pessoa jurídica costumam ser bem mais atrativas, se comparadas à pessoa física.
Isso acontece pois o risco de inadimplência costuma ser bem menor, afinal, a empresa de fato já realizou aquela operação.
Capital de giro
De maneira simplificada, o Capital de Giro é a diferença entre o montante disponível em caixa e o somatório de todas as despesas que a empresa possui.
Em outros termos, pode-se dizer que:
Capital de Giro = Ativo Circulante – Passivo Circulante |
Os ativos circulantes são aqueles pertencentes à companhia – dinheiro em caixa, aplicações financeiras, estoques, contas a receber, entre outras possibilidades.
Já os passivos circulantes são as necessidades financeiras da empresa, tais como pagamento de fornecedores, contas a pagar e empréstimos.
É importante enaltecer que os passivos circulantes, na maioria das vezes, possuem curto prazo.
O Capital de Giro é uma excelente métrica para a saúde financeira de uma organização.
De maneira geral, a relação ativo circulante/passivo circulante precisa ser maior do que 1 – isso significa que ela possui o dinheiro necessário para cumprir suas obrigações financeiras no curto prazo.
Dependendo do tipo de empresa – por exemplo, aquelas que possuem resultados atrelados às flutuações econômicas, tais como a indústria petrolífera, companhias aéreas, aço e químicas – é necessário pensar em uma margem de lucro que gire no valor de 2.
Uma questão de estratégia
Antes de pensar na maneira com que esses dois assuntos se relacionam, é preciso refletir sobre uma questão de tempos e prazos.
A antecipação de recebíveis acontece quando a operação é de longo prazo – geralmente, dois meses ou mais -, mas existe uma vontade ou necessidade de ter acesso ao dinheiro no curto prazo.
Já o capital de giro é naturalmente necessário a curto prazo, pois permite à empresa honrar seus stakeholders e criar estratégias para seu crescimento no longo prazo.
Sendo assim, uma dúvida que pode surgir é se existe a necessidade de antecipar os recebíveis pensando na utilização do seu valor para o capital de giro.
Sejamos sinceros: ninguém nunca deveria ser obrigado a nada. A possibilidade pode até parecer tentadora, entretanto, é necessário levar em consideração alguns aspectos antes da tomada de decisão:
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- Saúde financeira da empresa: Existe um controle real dos valores monetários que entram e saem da organização? Quais são os indicativos que reforçam essa visão?
- Relação com stakeholders: a relação é amigável? Ela é baseada na escassez ou na abundância? Se algum imprevisto acontecer, como seu negócio será afetado?
- Taxa de capital de giro: qual é a proporção que se estabelece entre ativos e passivos circulantes? Qual é a mensagem que isso passa para as pessoas envolvidas na operação?
- Taxas de antecipação de recebíveis: quão atrativas elas parecem ser? O que a empresa perderia caso não antecipasse esses valores?
Se as respostas às perguntas acima forem positivas – saúde financeira em bom estado, stakeholders interessados na manutenção da parceria, taxa de capital de giro maior que 1, taxas de antecipação interessantes – existem bons indícios que essa pode ser uma estratégia vencedora a longo prazo.
Entretanto, se o cenário é o oposto, pode ser o momento de avaliar essa necessidade e refazer algumas contas: o pior erro é aquele onde temos a certeza que ele poderia ter sido evitado.
Se você está na dúvida se esse é o momento de antecipar recebimentos para utilizar como capital de giro, não faça, pois você estará tratando a questão como uma aposta e, como tal, dependente do fator sorte – algo que pode ser especialmente perigoso para os negócios.